Cinco motivos para um jovem escritor não publicar um livro

No exercício do ofício de escritor não têm faltado convites e sugestões para a publicação de um livro. É um caminho natural de nossa cultura de publicações. Amigos, colegas de texto e até mesmo editoras (com interesse mais financeiro do que literário) colocam na publicação uma espécie de maioridade literária na qual devemos todos ser iniciados mais cedo ou mais tarde. Muitos escritores inéditos têm resistido, por falta de dinheiro e de tempo, à publicação de um livro e convém deixar bem claros os motivos para pensar assim:

1 – Uma, duas, três arvores. Meia árvore que seja. Livros consomem celulose. Ainda que o papel seja reciclado há o passivo ambiental da soda e de algum eventual resíduo criado a partir do processo de reciclagem. Em tempos ecologicamente corretos – e depois que Steve Jobs vem aperfeiçoando uma proposta de livreo eletrônico – convém pensar se a publicação vale a pena.

2 – Vivemos na era da informação. Há um infindável número de dados, índices, indicadores e notícias soltos aí pela rua. Um livro tem que concorrer com revistas, sites, blogs, canais de tv a cabo e video-games cada vez mais atrativos. Diferente de um livro, todos os outros meios de obter informação estão muito mais disponíveis e à mão. Publicar para o livro mofar em estantes ou virar suporte para monitor não é motivo plausível.

3 – A quantidade não é nem de perto sinônimo de qualidade e com a facilidade com que se publica hoje em dia qualquer um, mas qualquer um mesmo, pode publicar. Resultado: muita porcaria nas estantes das livrarias do meu Brasil-sil-sil. Ser mais um ou ser mais um de baixa qualidade é sempre um risco.

4 – Publicar um livro, até que se prove o contrário, envolve algum tempo e dinheiro. A não ser que o ego e a vontade de ter um livro publicado seja mais importante do que outras coisas boas da vida, publicar ainda não é uma prioridade.

5 – Publicar é, antes de tudo, tornar algo público. Há outras maneiras de se fazer isso que não seja em forma de livro. Um blog como esse que o leitor no momento lê é uma delas. Com a diferença que um blog tem a possibilidade de acesso universal muito maior, e por um baixo custo. Um blog mediano, que tenha 100 acessos ao dia, já tem mais sucesso que um livro. Autores em início de carreira publicam 500, quando muito, 1000 exemplares em cada edição. Com 1000 livros distribuídos, qual a garantia que o autor terá de que ao menos 100 pessoas vão pegar o livro uma vez por dia para dar uma folhada a exemplo dos 100 acessos diários de um blog literário? Logo, o blog dá mais chance que o público interessado tenha acesso ao conteúdo publicado, coisa que o livro não possibilita em suas limitações materiais.

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Categorizado como Crônica

Por felipedamo

Felipe Damo é jornalista

5 comentários

  1. Damo, é por esses, e outros motivos que não publicarei o meu terceiro livro agora. Vou me retirar por alguns momentos da vida literária e plantar algumas mudas de Pinheiro do Paraná, Eucalipto, Cedro, Cedrinho, Jacarandá da Índia, da Bahia, Andiroba, Angelim, Pedra, Mogno, Garapa, Louro, Maçaranduba, Teca, Caviúna, Cambará, Cumaru, Garapeira, Guariuba, Jatobá, Ipê Amarelo, Maracatiara, entres outras. Vou podar minha samambaia chorona para que ela cresça viçosa e muito verde. Vou esperar Outubro chegar e com ele a chance de votar na primeira mulher candidata a presidente de meu querido Brasil e, finalmente, quando chegar Janeiro, do próximo ano, direi todo orgulhoso: 2010 foi mesmo um ano supimpa, camaradas!

  2. Louvado seja Felipe Damo pela forma que escreveu exatamente o que EU penso a respeito dessas publicações!

    Vou roubar para publicar sábado lá no meu blog. E ai de ti dizer que não.

    Besos, cabrón!

  3. Os bons motivos são validos meu amigo. Mas estamos longe de alcançar uma democracia no quesito acesso a internet. Sei que é questão de tempo mas esse bendita mídia, e a discussão em torno dele é uma mera discussão fora da realidade de quem um dia conclamou o fim do livro quando o surgimento do radio, quando do surgimento do cinema quando do surgimento da teve e por ai a fora…

  4. Mas um livro é sempre um bom presente… Uma maneira de compartilhar com outros as palavras e textos que admiramos. E ainda que fique guardado na estante, guarda com ele a cada momento a possibilidade da nova descoberta…

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